— Total. Estranha mesmo – ouvi outra concordar.
Forcei meus pés a dar alguns passos mais apressados. O ar parecia pesado, impuro... irrespirável demais quando ela estava por perto.
Joshua – ou simplesmente Josh, como prefere ser chamado – e seus amigos riam e mastigavam seus hambúrgueres de carne com a boca aberta do outro lado do pátio.
Ajeitei meus óculos, e comecei a me aproximar deles. Comprimi meus livros com um pouco mais de força contra o peito. Na verdade eu me senti meio mal quando passei por eles e os burburinhos aumentaram. Dava para sentir os olhares perfurando minhas costas. Quero dizer, eu não sou o tipo de garota que daria tudo para ser como Ashley Phillips nem nada do tipo. Não chega a tanto. Não mesmo.
Atravessei o resto do pátio antes que você possa dizer a palavra: Satânico.
— Hã, Lucy – ouvi Dave dizer – seu violão já está lá dentro – fez ele, animado.
— Ah, obrigado, Dave – disse e sorri levemente.
— Não foi nada. E aí, como foi seu dia?! – ele abriu aquele sorriso de orelha a orelha – pela sua cara não foi o seu melhor dia na escola, certo?
— É, não foi.
— O que foi dessa vez?
— Hm, Dave, eu realmente tenho que ir, ok? Te vejo depois – falei com a voz meio esganiçada.
— A gente se fala – ele disse enquanto se ocupava em esconder a decepção em sua careta.
Dei um sorrisinho e me virei, andando na direção do meu violão.
— Ei, Taylor Swift – Dave chamou – já está na hora – e apontou para o relógio.
Exasperada, olhei para o céu – já escuro – meio que para confirmar e tudo o mais. Mais uma vez atrasada.
Juntei rapidamente minhas coisas e tentando equilibra-las nas minhas mãos e sai daquele pequeno estúdio de rádio abandonado. A antiga rádio da escola. A diretora me deixava ficar ali, já que eu nunca incomodara ninguém, tinha notas boas e blábláblá.
— Deixa eu te ajudar com isso – Dave pegou de minha mão algumas coisas.
— Er, obrigado, Da... – tentei agradecer.
— Tudo bem, tudo bem – murmurou – hoje foi produtivo?
— Acho que sim – o fitei por um momento.
Ficamos em silêncio por um bom tempo até que Dave mesmo o quebrou:
— Hm, Lucy, por que você não “resgata” a nossa velha rádio? Você se daria bem – o peguei olhando para o nada.
— Como assim? – ajeitei meus óculos.
— Bem, reinaugurar a rádio. Faze-la voltar à ativa de novo! – agora ele estava sorrindo para o nada.
— Caramba – era só o que eu conseguia murmurar.
— Pois é. Espantoso que algo que preste tenha saído da minha boca – ele se virou para me olhar – mas e aí, o que acha?
— Parece bem louco – ele retorceu a boca – porém, bem tentador.
De repente, ele parecia bem feliz.
Depois de muito trabalho, conversa e coisas bem sutis – nem queira imaginar – conseguimos reabrir a antiga e pequena rádio da escola.
Eu continuava ensaiando lá. Ashley Phillips e Josh continuavam a me arruinar por dentro. A cada insulto, uma rasgada mais profunda naquela velha ferida aberta e inflamada. E eu só ajeitava meus óculos.
O baile já estava chegando, e a cada dia, mais próximos do baile, mais eu ficava ali, observando as garotas que o padrão de beleza julga ser perfeitas serem convidadas por garotos que compram camisas cada vez menores para dizerem que tem alguma massa muscular no bíceps.
Dia do Baile:
Dave continuava do jeito que sempre foi, prestativo, engraçado, doce.
Em um piscar de olhos, já estávamos no dia do baile.
Eu e Dave combinamos que iríamos ao baile... Mas para ficar, er, trabalhando. É, isso mesmo: trabalhando. Trabalhando na rádio.
Cheguei lá, e, Dave já estava me esperando.
— Precisamos colocar a primeira música – de calças jeans começamos a andar em direção ao estúdio – anda, Lucy.
— Estou indo, Dave, calma.
Não entendia a pressa de Dave. Não mesmo.
— Lucy, veeeem – ele me puxou para dentro do estúdio ainda escuro – feche os olhos, Lucy – e colocou a mão sobre meus olhos.
Ouvi o clic do interruptor e ele tirou as mãos dos meus olhos.
— Ah. Ah. – foi só o que eu conseguir dizer.
Dependurado ali, na minha frente, havia um vestido; e preciso dizer: ele era simplesmente maravilhoso. Totalmente per-fei-to.
Ele devia ter roubado da Cinderela ou algo do tipo. Ele era tão cintilante, tão lindo. Tão... não-feito-para-mim.
— E aí, Lucy? O que achou – ele disse.
— Meu Deus. Ele é tão perfeito – eu respondi, maravilhada.
— É, é para você, Lucy – ele disse parecendo ser algo óbvio.
— Jura?
— Juro.
— Não é possível, certo? – soltei.
— Sim, é possível. Espere um minuto. Fique aí – sibilou.
Sacudi a cabeça afirmativamente, até ele desaparecer. E voltar com um smoking. Tipo, daqueles chiques, que usam em filmes de galã.
— Lucy – sussurrou – quer ir ao baile comigo?
— Mas... e a r-rádio? – grunhi.
— Não se preocupe com nada, está tudo perfeito, só falta você – ele sorriu.
— Como poderia dizer não, Dave?
— Ande, vá se trocar – ele gesticulou para o vestido.
Vesti o vestido-perfeituoso e as sandálias cintilantes, soltei meus cabelos, revelando os grandes cachos loiros.
— Ah, meu Deus.
— Está tão ruim assim?! – me inclinei, tentando me olhar.
— Você está maravilhosa – sibilou – só falta uma coisa... – ele se aproximou, e, tirou meus óculos.
— Hm, pronto! Vamos, estamos atrasados.
Quando sai, bateu uma leve brisa, e, os pêlos da minha nuca se eriçaram.
— Está com frio?!
— Um pouco – admiti.
— Toma – ele esticou uma coisa preta, ele gesticulou para eu pegar a coisa. A fiz, era tipo uma capa – é só o que eu tenho.
— Tudo bem, obrigada – a vesti.
Chegando no ginásio – onde seria a festa – estava tudo combinado com o meu novo vestido e tal.
Dave tirou minha capa de repente. Enrubesci instantaneamente.
Desci as escadas e dessa vez – pela primeira vez –, quando eu passei, os burburinhos não aumentaram. Todos se calaram.
E, de repente, eu reconheci a música que estava enchendo aquele salão.
— O que é isso, Dave? – eu agarrei freneticamente seu braço.
— É sua música, ué – ele deu de ombros.
— Ah, meu Deus. Eu sei, certo? – consegui cuspir as palavras entre os dentes trincados – quero saber o que ela está fazendo aí?
Vi que as pessoas estavam realmente gostando da minha música. Sério! Ashley e Josh estavam do outro lado do salão, me olhando com os olhos arregalados, como se não acreditassem no que viam.
— Dave, isso é coisa sua? – semicerrei os olhos.
Ele deu de ombros de novo, e, apontou para o palco. Lá em cima estava um violão. Não exatamente o meu. Tecnicamente, o dos meus sonhos. Um igualzinho o da Taylor Swift em Our Song.
Me empurraram para lá, as pessoas abrindo o caminho enquanto se ocupavam em abrir mais a boca, espantadas.
Subi lá e simplesmente comecei a acompanhar a música, até que quando me dei conta, ela já havia terminado, e o som que se ouvia era da salva de palmas que inundou aquele salão.
— Eu trabalhei nele por um tempo.
— Ah, Dave.
— Eu sei. De nada – um sorriso brincou em seus lábios rosados.
Senti o meu rosto esquentando, o sangue subindo até ali.
— Hoje é o dia mais feliz da minha vida, Dave – e então, fiz uma coisa que nunca imaginaria que eu faria. Inclinei-me, e, finalmente, meus lábios tocaram os deles, e, então eu soube que meu lugar era ali, do lado dele. Ou no palco.
Desejei nunca acordar daquele sonho perfeito. Era o dia mais feliz da minha vida, afinal.
- Pauta para o Once Upon A Time